sábado, 27 de outubro de 2012

novas!


Aqui, tudo vai bem.

Tenho conhecido pessoas incríveis, vivendo momentos inesperadamente felizes.

No último fim-de-semana fui com algumas meninas do colegial a um convívio em uma casa de retiros. Certamente, um dos melhores fins-de-semana da minha vida.

Porque foi um tempo para parar e pensar.

Primero, que já estou na metade-final do intercâmbio. Pensar em tudo o que tinha passado, em todos que conheci. Lembrar-me das minhas ruas cotidianas no Brasil, da minha família, dos amigos que deixei. Ir pensando em cada um, com calma, com amor. Como se por alguns segundos pudesse falar de novo com eles. E deixei-me sentir saudades.

Pensar no que vivi e vivo no México. Uma das coisas certamente muito marcantes que vivo aqui é o convívio com crianças. No Brasil, não conhecia, nem brincava com muitas. Aqui conheci e vivo semanalmente com pelo menos 30. Porque além dos meus `sobrinhos`, também tenho ajudado em um club para meninas em que as ensinamos a estudar, fazer algo na cozinha, alguma manufatura, e damos uma pequena classe sobre alguma virtude ou aspecto da doutrina católica.

Aqui também, tenho ajudado em alguns trabalhos voluntários. Vamos até os pueblitos e conversamos com as famílias. Perguntamos se querem que ajudemos em algo: varrer a casa, lavar o pratos, fazer o almoço. Contato direto com pessoas que não têm água corrente em casa. Que trabalham para conseguir o dinheiro do dia, e poder comprar o pão para o jantar.

E ficamos sabendo das histórias... de pueblitos em que ainda não chegou nem mesmo a língua espanhola. De famílias que vão a missa- todo domingo – sem entender o espanhol, mas que sabem que aí está Deus. Que têm a Virgem de Guadalupe num retrato de casa, e confiam que ela providenciará tudo, como fez em Caná.

Agora soam os sinos no México... são poesia em música. Me encantan!

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As aulas...estão bem! Como na usp, não temos tantas provas, mas muitos trabalhos. Tenho ido bem!

Lendo muito. Me preparando para as aulas de um modo como nunca havia conseguido no Brasil. (Incluso na última semana, e essa é minha justificativa para ter sumido!)

Já tenho planejadas algumas viagens nos próximos fins de semana. Assim que voltar delas coloco muitas fotos :P

Saudades de todos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Aquela doce tarde


Depois de uma agradável tarde caminhando pelo centro de Coyoacan com M. e L., fomos  à casa da mãe de A.

Sempre me deixou encantada essa casa, desde a primeira vez que a vi. É como entrar em uma dessas casas aconchegantes, antigas e rústicas. Para falar da casa tenho que contar a peculiar historia da mãe de A. (que a partir de agora chamo de Sra. A.). Filha de americanos, cujo pai por conta do trabalho estava sempre indo viver temporadas em outros países, tem irmãs que nasceram no Equador, Colômbia,  e ela, nos Estados Unidos. Quando chegaram a México, seu pai ficou encantado e decidiu por viver aqui.
Uma família com uma cultura imensa certamente, pois a Sra. A. vez ou outra fala que lembra de algumas canções de Mozart, Bach, Carlos Chávez, etc  por sua infância.  A única coisa que soube é que a mãe da Sra. A. era uma pianista muito boa, que tinha um especial aprecio por Bach.  

Tive que fazer essa pequena contextualização porque a casa da Sra. A. é peculiar. Quando vc entra, o que vê é um corredor, cujas paredes estão dispostas em forma de estante. E nessas estantes livros e mais livros. Em frente dos livros, como decoração, alguns objetos de culturas pré-hispânicas (originais, pois foram encontrados por seu marido e filhos durante a construção da casa!). Há uma única interrupção entre as instantes em que há uma janela. Desse corredor , a primeira abertura dá para sala. Uma sala que em vez de TV, há um quadro na parede. E abaixo, uma lareira. Ao redor da lareira, sofás, poltronas, tapetes aconchegantes. E da sala, se vai para um jardim... sendo que a única divisória são portas de vidro. Fora, há também sofás, cadeiras e poltronas, e uma pequena mesa –de-jantar de madeira.

 Tudo, muito, muito encantador. A Sra. A. deixa o ambiente ainda mais literário com sua aparência e jeito de americana descobridora do Novo Mundo. Isso porque fala com calma, apesar de um jeito ativo de ser, senta-se conforme uma educação inglesa, toma chá, e têm os olhos brilhantes ao falar da história do México ou de música. E apesar de tudo, não é daquelas senhoras snobs, ao contrário, parece considerar que todos ao seu redor são mais interessantes que ela mesma.

Naquela tarde, apesar do frio, comemos no jardim, pois assim estava mais agradável. No caminho entre a cozinha e o jardim, ela me encontrava admirando seus objetos pré-hispânicos e me contava de como foram encontrados e da grande preciosidade que tinham. Em sua maioria eram pequenos vasos, pratos, pontas de flecha, que ganhavam valor quando pensávamos em quantas pessoas tinham esses objetos como parte de sua casa, de seu cotidiano.

Ao final, nos sentamos todas na sala, para esquentar-nos com o fogo da lareira que a Sra. A. tinha acendido, e ficamos conversando sobre línguas, música, culturas diferentes, etc. Parte de mim queria estar para sempre naquela tarde, naquela casa, naquela companhia. Mas uma hora tínhamos que partir, e eu tinha receio de dizer ´adeus´. Uma hora A. disse que tínhamos que ir. Toda minha vontade se contorceu, e meu corpo certamente não queria levantar-se e fazia protestos à razão. Mas não modo. Uma hora dei um susto em mim mesma, levantei-me depressa e comecei a despedir-me todos... pensando que a vida consistia em boa companhia e uma lareira acesa.

Uma vez eu vi uma senhora limpar um oratório.

Ao ver o trabalho que tinha que fazer, e pelo Amor que estava ali a observando desde o Sacrário, fui perguntar-lhe se não podia ajudá-la.

Passava aquele paninho em cada banco, cada acento, cada genuflexório, ia até os pés de cada um deles. Depois tiramos o pó das janelas, e com um espanador especial, o pó do altar.

Por fim acabamos e ao ver-me tão feliz, a senhora me disse:

- Agora só falta tirar o pó do Sacrário. Você gostaria de fazê-lo ?

Ao ver meus olhos brilhando de alegria, tirou um espanador de uma caixinha toda especial, que não permitia que entrasse pó dentro dela. Explicou-me que era feito das mais finas e suaves penas do avestruz. E finalmente mo deu. Fui em direção ao Sacrário. Tirei o véu que o cobria e comecei a limpá-lo.

E então já não era uma ´caixinha de ouro´. Era um menino, com seus 7 anos de idade, sentado enquanto eu lhe penteava e acariciava os cabelos. Eu tomava seus cabelos e ia de um lado para o outro, brincava de colocar sua franja para frente, e de lado e Ele ria. Pensei então em quantas vezes teria feito o mesmo a Virgem Maria, e agradeci a ela esse pequeno mimo de poder pentear o Menino Jesus. Por fim, tomei o véu, e pedi ao pequeno que levantasse seus bracinhos para que eu colocasse sua roupa. Obediente e com um doce sorriso, os levantou. Ajeitei bem, para que ficasse bem ajustado. E, num piscar de olhos, o menino se fora e ali estava de novo a ´caixinha dourada´.

Voltei à salinha em que guardávamos o espanador, e o coloquei cuidadosamente em sua caixa.

 Sai, e me sentei em um dos bancos.

E pensei o quão amável era Deus... que deixava-se estar vulnerável como um menino... que se deixava como Pão, para O acolhermos, para O Amarmos.

E que ainda assim tão poucos O amavam.