segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Día de los muertos


O Dia dos Mortos no México é muito conhecido. É uma data, na verdade, muito peculiar, porque se ao redor do mundo o dia de finados é um dia triste em que visitamos os parentes falecidos; aqui é um dia alegre, colorido e beeem açucarado (abaixo fotos da Feria del Alfeñique em Toluca, em que se vendem todo o tipo de guloseimas em forma de caveiras, ossinhos, caixões, etc, no mês de novembro).
 


São colocados nos cemitérios, nas casas, nos restaurantes altares com o que chamam ´oferendas´: se colocam as fotos dos falecidos da família junto com frutas, comidas que mais gostavam, bebidas, em caso de crianças- brinquedos; tudo por uma tradição em que se acreditava que os mortos vinham e comiam a ´essência´ da comida. Depois do dia de mortos a comida é consumida pelo própios parentes.

Em um primeiro momento, certamente parece uma festa macabra. Inclusive os outros costumes que têm entre os ´vivos´: entregar caveiras de açúcar àqueles que te são queridos com seus nomes escritos na testa, escrever versos sobre a morte de alguém que vc gosta muito, etc etc...

Ao final de outubro eu já estava mais acostumada a ver caveiras de chocolate nas lojas. Cheguei até a ganhar versos sobre a minha morte!:

Del Brasil ella llegó

Y le tocaron las olimpiadas

Emocionada ella gritaba:

Vamos golero

Aumentar el medallero

Después a Oaxaca partió

¿se fue de vacaciones?

No. A conocer tradiciones

Ahí en el cemitério sobre las tumbas

Llegan las calaveras

A ver esa güera* que se antoja de veras

Vente pa´ca hermosita

Dijo la calaquita

A esa linda güerita*

Que se llamaba Esthercita

 

*güera ou güerita é como os mexicanos chamam às pessoas de pele e cabelos claros
*calaquita = caverinha


Outro personagem supertradicional do Dia de Muertos é a Catrina: uma espécie de morte figurada por uma mulher elegante.
 

No final das contas, é uma festa que não passa de uma burla da morte. Como se rissem do final que todos um dia teremos...
.
.
.
Ahhhhhhh sinto tanta falta de escrever! Vou tentar estar mais frequente próximos dias... quem sabe... (:

sábado, 27 de outubro de 2012

novas!


Aqui, tudo vai bem.

Tenho conhecido pessoas incríveis, vivendo momentos inesperadamente felizes.

No último fim-de-semana fui com algumas meninas do colegial a um convívio em uma casa de retiros. Certamente, um dos melhores fins-de-semana da minha vida.

Porque foi um tempo para parar e pensar.

Primero, que já estou na metade-final do intercâmbio. Pensar em tudo o que tinha passado, em todos que conheci. Lembrar-me das minhas ruas cotidianas no Brasil, da minha família, dos amigos que deixei. Ir pensando em cada um, com calma, com amor. Como se por alguns segundos pudesse falar de novo com eles. E deixei-me sentir saudades.

Pensar no que vivi e vivo no México. Uma das coisas certamente muito marcantes que vivo aqui é o convívio com crianças. No Brasil, não conhecia, nem brincava com muitas. Aqui conheci e vivo semanalmente com pelo menos 30. Porque além dos meus `sobrinhos`, também tenho ajudado em um club para meninas em que as ensinamos a estudar, fazer algo na cozinha, alguma manufatura, e damos uma pequena classe sobre alguma virtude ou aspecto da doutrina católica.

Aqui também, tenho ajudado em alguns trabalhos voluntários. Vamos até os pueblitos e conversamos com as famílias. Perguntamos se querem que ajudemos em algo: varrer a casa, lavar o pratos, fazer o almoço. Contato direto com pessoas que não têm água corrente em casa. Que trabalham para conseguir o dinheiro do dia, e poder comprar o pão para o jantar.

E ficamos sabendo das histórias... de pueblitos em que ainda não chegou nem mesmo a língua espanhola. De famílias que vão a missa- todo domingo – sem entender o espanhol, mas que sabem que aí está Deus. Que têm a Virgem de Guadalupe num retrato de casa, e confiam que ela providenciará tudo, como fez em Caná.

Agora soam os sinos no México... são poesia em música. Me encantan!

.

.

.

As aulas...estão bem! Como na usp, não temos tantas provas, mas muitos trabalhos. Tenho ido bem!

Lendo muito. Me preparando para as aulas de um modo como nunca havia conseguido no Brasil. (Incluso na última semana, e essa é minha justificativa para ter sumido!)

Já tenho planejadas algumas viagens nos próximos fins de semana. Assim que voltar delas coloco muitas fotos :P

Saudades de todos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Aquela doce tarde


Depois de uma agradável tarde caminhando pelo centro de Coyoacan com M. e L., fomos  à casa da mãe de A.

Sempre me deixou encantada essa casa, desde a primeira vez que a vi. É como entrar em uma dessas casas aconchegantes, antigas e rústicas. Para falar da casa tenho que contar a peculiar historia da mãe de A. (que a partir de agora chamo de Sra. A.). Filha de americanos, cujo pai por conta do trabalho estava sempre indo viver temporadas em outros países, tem irmãs que nasceram no Equador, Colômbia,  e ela, nos Estados Unidos. Quando chegaram a México, seu pai ficou encantado e decidiu por viver aqui.
Uma família com uma cultura imensa certamente, pois a Sra. A. vez ou outra fala que lembra de algumas canções de Mozart, Bach, Carlos Chávez, etc  por sua infância.  A única coisa que soube é que a mãe da Sra. A. era uma pianista muito boa, que tinha um especial aprecio por Bach.  

Tive que fazer essa pequena contextualização porque a casa da Sra. A. é peculiar. Quando vc entra, o que vê é um corredor, cujas paredes estão dispostas em forma de estante. E nessas estantes livros e mais livros. Em frente dos livros, como decoração, alguns objetos de culturas pré-hispânicas (originais, pois foram encontrados por seu marido e filhos durante a construção da casa!). Há uma única interrupção entre as instantes em que há uma janela. Desse corredor , a primeira abertura dá para sala. Uma sala que em vez de TV, há um quadro na parede. E abaixo, uma lareira. Ao redor da lareira, sofás, poltronas, tapetes aconchegantes. E da sala, se vai para um jardim... sendo que a única divisória são portas de vidro. Fora, há também sofás, cadeiras e poltronas, e uma pequena mesa –de-jantar de madeira.

 Tudo, muito, muito encantador. A Sra. A. deixa o ambiente ainda mais literário com sua aparência e jeito de americana descobridora do Novo Mundo. Isso porque fala com calma, apesar de um jeito ativo de ser, senta-se conforme uma educação inglesa, toma chá, e têm os olhos brilhantes ao falar da história do México ou de música. E apesar de tudo, não é daquelas senhoras snobs, ao contrário, parece considerar que todos ao seu redor são mais interessantes que ela mesma.

Naquela tarde, apesar do frio, comemos no jardim, pois assim estava mais agradável. No caminho entre a cozinha e o jardim, ela me encontrava admirando seus objetos pré-hispânicos e me contava de como foram encontrados e da grande preciosidade que tinham. Em sua maioria eram pequenos vasos, pratos, pontas de flecha, que ganhavam valor quando pensávamos em quantas pessoas tinham esses objetos como parte de sua casa, de seu cotidiano.

Ao final, nos sentamos todas na sala, para esquentar-nos com o fogo da lareira que a Sra. A. tinha acendido, e ficamos conversando sobre línguas, música, culturas diferentes, etc. Parte de mim queria estar para sempre naquela tarde, naquela casa, naquela companhia. Mas uma hora tínhamos que partir, e eu tinha receio de dizer ´adeus´. Uma hora A. disse que tínhamos que ir. Toda minha vontade se contorceu, e meu corpo certamente não queria levantar-se e fazia protestos à razão. Mas não modo. Uma hora dei um susto em mim mesma, levantei-me depressa e comecei a despedir-me todos... pensando que a vida consistia em boa companhia e uma lareira acesa.

Uma vez eu vi uma senhora limpar um oratório.

Ao ver o trabalho que tinha que fazer, e pelo Amor que estava ali a observando desde o Sacrário, fui perguntar-lhe se não podia ajudá-la.

Passava aquele paninho em cada banco, cada acento, cada genuflexório, ia até os pés de cada um deles. Depois tiramos o pó das janelas, e com um espanador especial, o pó do altar.

Por fim acabamos e ao ver-me tão feliz, a senhora me disse:

- Agora só falta tirar o pó do Sacrário. Você gostaria de fazê-lo ?

Ao ver meus olhos brilhando de alegria, tirou um espanador de uma caixinha toda especial, que não permitia que entrasse pó dentro dela. Explicou-me que era feito das mais finas e suaves penas do avestruz. E finalmente mo deu. Fui em direção ao Sacrário. Tirei o véu que o cobria e comecei a limpá-lo.

E então já não era uma ´caixinha de ouro´. Era um menino, com seus 7 anos de idade, sentado enquanto eu lhe penteava e acariciava os cabelos. Eu tomava seus cabelos e ia de um lado para o outro, brincava de colocar sua franja para frente, e de lado e Ele ria. Pensei então em quantas vezes teria feito o mesmo a Virgem Maria, e agradeci a ela esse pequeno mimo de poder pentear o Menino Jesus. Por fim, tomei o véu, e pedi ao pequeno que levantasse seus bracinhos para que eu colocasse sua roupa. Obediente e com um doce sorriso, os levantou. Ajeitei bem, para que ficasse bem ajustado. E, num piscar de olhos, o menino se fora e ali estava de novo a ´caixinha dourada´.

Voltei à salinha em que guardávamos o espanador, e o coloquei cuidadosamente em sua caixa.

 Sai, e me sentei em um dos bancos.

E pensei o quão amável era Deus... que deixava-se estar vulnerável como um menino... que se deixava como Pão, para O acolhermos, para O Amarmos.

E que ainda assim tão poucos O amavam.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

tempo para amar


O tempo no México é algo desconcertante.

Porque parece escorrer, parece ter pressa. Quer que eu viva dois dias de cada vez.

Eu tenho esse dom ou defeito de me acostumar muito facilmente às circunstâncias. Nesses dias me dei conta que tinha me acostumado a pegar o ônibus ao sair da faculdade, a conversar com as pessoas aí, a jantar tortillas com M., a preparar meu café-da-manhã na noite anterior, a ir pelo parque a pé fazendo a ação de graças, pela Comunhão recebida.

E então me dei conta... de que não é minha vida. De que é uma experiência, e que irá durar somente esses meses. E que apesar de ter deixado pessoas queridíssimas no Brasil, me dá um terrível aperto no coração pensar que muitas dessas pessoas com quem converso diariamente agora, nunca mais irei ver na minha vida.

Por isso meus últimos dias têm sido um constante não-me-acostumar. Não me deixar levar por essa rotina, que não é a minha, que é apenas desses meses.  E aproveitar a cada uma dessas pessoas o máximo que posso, porque o tempo urge, e não posso esperar, não posso desperdiçar um único minuto.

Essa semana, entre essas conversas diárias que temos na faculdade, vi L., uma amiga, de repente colocar uma cara triste quando ela mesma se deu conta disso tudo...´mas Esther... vc voltará, não é verdade... para visitar-nos...? ´ Não pude responder. Mudamos de assunto. Porque é muito doloroso. Quem sabe ? Quem sabe se vou voltar ? Talvez eu nunca mais volte a esse país – e não porque não tenha gostado, pois cada dia me cresce um amor por essa terra! – mas porque... quem sabe ...?

Que coisa é o amor. Nos deixa vulneráveis. Porque acabamos por nos importar de verdade. E às vezes isso gera essas dores. Mas isso não é motivo para decidir não amar. Porque... o que é a vida sem amor ? Vou dizer: é vazio. Quando amamos somente a nós mesmo, quando pensamos somente em nossos problemas, nos tornamos cada vez mais tristes. A verdadeira alegria é amar, amar a todos, ainda que nos façam mal. Ainda que não nos caiam bem. Amar a todos, porque isso nos torna livres, felizes, e ... vulneráveis. Mas quem se importa ?

Se Ele, por amor, quis se deixar ser vulnerável, e veio como um bebê indefeso...
Porque nos ama, se deixa ofender por nossas misérias, ao ver que fazemos mal a nós mesmos quando não O amamos. Se Ele, que é Deus, se permite vulnerável por amor... quem sou eu para não querer imitá-Lo ?

Porque por detrás de todo sofrimento que lhe causou amar-nos, nos deu a felicidade da vida eterna. Assim que confio que essa pequena dor de pensar que tudo aqui é temporário, também dará algum fruto, porque quem ama, já tem sua recompensa.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pronomes, diminutivos e S. Pedro


Às vezes, tenho uma vontade enorme de falar português. 

A verdade é que mais do que falar português, quero não ter que pensar,  nem medir, nem reparar se estou usando bem as palavras, conjugando certo os verbos, colocando os pronomes adequadamente.  Mas não adianta. A revolta interior de meu cérebro, que não quer ter de se esforçar, acaba sendo vencida, porque não há modo que me deixe entender quando falo português. É que quando somos obrigados a falar outra língua, percebemos o quão maravilhoso é a nossa própria, o quanto é incrível que não tenhamos que parar a cada sentença para verificar se os tempos verbais estão adequados.

A mim, sempre me impressionou o uso dos pronomes no espanhol.  Acho que porque os nossos pronomes são muito desvalorizados. Um dia falei isso com uma amiga aqui no México, que ficou desconcertada: ´ah, legal vc gostar dos pronomes...´ me disse com um sorriso um pouco sem graça. É, vendo dessa maneira, talvez pareça estranho.

Um dia, brincando de esconde-esconde com meus sobrinhos, ao ver que eu me demorava para ir atrás deles, A. começou a falar: ´ENCUENTRAME!´ Imagine o meu desconcerto ao ver um garoto de 5 anos usar dessa maneira os pronomes! Vc me dirá: ´bom esther, é assim que é o espanhol´, mas ainda assim não me convenço. Acho incrível.

Uma outra coisa comum aqui são os diminutivos. A variação ´ahorita´ - de ´ahora´ (agora)- é dos mais usados. E temos ahora (que se utiliza para designar uma grande referencia de tempo), ahorita (daqui a pouco), ahoritita (imediatamente).

Um diminutivo ao qual de alguma maneira me afeiçoei foi ´padrecito´.  Uma vez me disse isso Y. se referindo a um padre jovem que conhecíamos.  Me pareceu tão terno! É que apesar de jovem, tem uma visão de mundo incrível. Uma vez ao conversar com ele, deu-me umas boas ideias para colocar em prática.  

(vcs vão me desculpar por falar tanto de catolicismo, mas às vezes me parece inevitável...!)

.

.

.

A cada dia, em cada missa, a cada oração, eu tenho pensado em toda essa loucura de deixar nossa casa, nossa família, e ir para um lugar desconhecido, com outras pessoas, outros lugares, outra vida. A resposta me veio no Evangelho do dia: aquele de quando Pedro se jogou no mar ao ver Jesus caminhando sobre as águas.

Porque olhando com olhos humanos, o que Pedro faz é absurdo. O que ele queria ao se jogar nas águas ? Estava deixando sua barca, aquela barca de toda a sua vida, e que provavelmente conhecia cada canto, cada lugar. Aquela barca segura, quentinha, muito boa, ao qual muitos queriam ter.  Deixava seus amigos,  sua roupa, tudo. Saía nu da barca, para pular no mar.

É que no mar estava Jesus.  Ele podia reconhece-Lo. E no final das contas, que importa se o mar estava gelado, se tinha piranhas, se estava escuro ?  O verdadeiro absurdo, a verdadeira loucura era ficar na barca quentinha, quando Jesus o tinha chamado: ´Vem!´ .

Deus, criador do Céu, da Terra, de tudo o que vemos, que desenhou cada uma das pétalas das flores, que estabeleceu as regras de toda a natureza, que fez cada planeta e cada estrela de todo universo,... estava ali, e o chamava.

Talvez, para os que estavam na barca isso fosse absurdo. Talvez não tivessem certeza de que fosse Jesus. Talvez pensassem que era demasiado exagero esse negócio de pular da barca. Mas para Pedro, era claro, muito claro, era Ele, era Ele e o chamava. Tinha que ir. Porque maior loucura do que ir, era ficar.

Tudo isso para dizer que... apesar do enorme desconhecido que me esperava em Toluca, aqui já me esperava Ele.  Apesar de não conhecer ninguém, eu já tinha aqui uma Mãe que me esperava.  E tudo tem saído muito bem. Incrivelmente bem. Realmente, já estava tudo um preparado para receber-me, eu só precisava dizer que sim. 

 É uma loucura sair de casa... mas, se os pássaros não saem do ninho, como podem voar ?
               

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fotos! (finalmente!)

 Catedral de Toluca, com amigos da faculdade

 Fiestas Patrias
Mole negro! Comida super típica : pedaços de frango com um molho que tem mais de 30 ingredientes entre nozes, pimenta, chocolate e não me lembro mais o que.... e o arroz, com uma pimentinha, claro!