segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Día de los muertos


O Dia dos Mortos no México é muito conhecido. É uma data, na verdade, muito peculiar, porque se ao redor do mundo o dia de finados é um dia triste em que visitamos os parentes falecidos; aqui é um dia alegre, colorido e beeem açucarado (abaixo fotos da Feria del Alfeñique em Toluca, em que se vendem todo o tipo de guloseimas em forma de caveiras, ossinhos, caixões, etc, no mês de novembro).
 


São colocados nos cemitérios, nas casas, nos restaurantes altares com o que chamam ´oferendas´: se colocam as fotos dos falecidos da família junto com frutas, comidas que mais gostavam, bebidas, em caso de crianças- brinquedos; tudo por uma tradição em que se acreditava que os mortos vinham e comiam a ´essência´ da comida. Depois do dia de mortos a comida é consumida pelo própios parentes.

Em um primeiro momento, certamente parece uma festa macabra. Inclusive os outros costumes que têm entre os ´vivos´: entregar caveiras de açúcar àqueles que te são queridos com seus nomes escritos na testa, escrever versos sobre a morte de alguém que vc gosta muito, etc etc...

Ao final de outubro eu já estava mais acostumada a ver caveiras de chocolate nas lojas. Cheguei até a ganhar versos sobre a minha morte!:

Del Brasil ella llegó

Y le tocaron las olimpiadas

Emocionada ella gritaba:

Vamos golero

Aumentar el medallero

Después a Oaxaca partió

¿se fue de vacaciones?

No. A conocer tradiciones

Ahí en el cemitério sobre las tumbas

Llegan las calaveras

A ver esa güera* que se antoja de veras

Vente pa´ca hermosita

Dijo la calaquita

A esa linda güerita*

Que se llamaba Esthercita

 

*güera ou güerita é como os mexicanos chamam às pessoas de pele e cabelos claros
*calaquita = caverinha


Outro personagem supertradicional do Dia de Muertos é a Catrina: uma espécie de morte figurada por uma mulher elegante.
 

No final das contas, é uma festa que não passa de uma burla da morte. Como se rissem do final que todos um dia teremos...
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Ahhhhhhh sinto tanta falta de escrever! Vou tentar estar mais frequente próximos dias... quem sabe... (:

sábado, 27 de outubro de 2012

novas!


Aqui, tudo vai bem.

Tenho conhecido pessoas incríveis, vivendo momentos inesperadamente felizes.

No último fim-de-semana fui com algumas meninas do colegial a um convívio em uma casa de retiros. Certamente, um dos melhores fins-de-semana da minha vida.

Porque foi um tempo para parar e pensar.

Primero, que já estou na metade-final do intercâmbio. Pensar em tudo o que tinha passado, em todos que conheci. Lembrar-me das minhas ruas cotidianas no Brasil, da minha família, dos amigos que deixei. Ir pensando em cada um, com calma, com amor. Como se por alguns segundos pudesse falar de novo com eles. E deixei-me sentir saudades.

Pensar no que vivi e vivo no México. Uma das coisas certamente muito marcantes que vivo aqui é o convívio com crianças. No Brasil, não conhecia, nem brincava com muitas. Aqui conheci e vivo semanalmente com pelo menos 30. Porque além dos meus `sobrinhos`, também tenho ajudado em um club para meninas em que as ensinamos a estudar, fazer algo na cozinha, alguma manufatura, e damos uma pequena classe sobre alguma virtude ou aspecto da doutrina católica.

Aqui também, tenho ajudado em alguns trabalhos voluntários. Vamos até os pueblitos e conversamos com as famílias. Perguntamos se querem que ajudemos em algo: varrer a casa, lavar o pratos, fazer o almoço. Contato direto com pessoas que não têm água corrente em casa. Que trabalham para conseguir o dinheiro do dia, e poder comprar o pão para o jantar.

E ficamos sabendo das histórias... de pueblitos em que ainda não chegou nem mesmo a língua espanhola. De famílias que vão a missa- todo domingo – sem entender o espanhol, mas que sabem que aí está Deus. Que têm a Virgem de Guadalupe num retrato de casa, e confiam que ela providenciará tudo, como fez em Caná.

Agora soam os sinos no México... são poesia em música. Me encantan!

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As aulas...estão bem! Como na usp, não temos tantas provas, mas muitos trabalhos. Tenho ido bem!

Lendo muito. Me preparando para as aulas de um modo como nunca havia conseguido no Brasil. (Incluso na última semana, e essa é minha justificativa para ter sumido!)

Já tenho planejadas algumas viagens nos próximos fins de semana. Assim que voltar delas coloco muitas fotos :P

Saudades de todos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Aquela doce tarde


Depois de uma agradável tarde caminhando pelo centro de Coyoacan com M. e L., fomos  à casa da mãe de A.

Sempre me deixou encantada essa casa, desde a primeira vez que a vi. É como entrar em uma dessas casas aconchegantes, antigas e rústicas. Para falar da casa tenho que contar a peculiar historia da mãe de A. (que a partir de agora chamo de Sra. A.). Filha de americanos, cujo pai por conta do trabalho estava sempre indo viver temporadas em outros países, tem irmãs que nasceram no Equador, Colômbia,  e ela, nos Estados Unidos. Quando chegaram a México, seu pai ficou encantado e decidiu por viver aqui.
Uma família com uma cultura imensa certamente, pois a Sra. A. vez ou outra fala que lembra de algumas canções de Mozart, Bach, Carlos Chávez, etc  por sua infância.  A única coisa que soube é que a mãe da Sra. A. era uma pianista muito boa, que tinha um especial aprecio por Bach.  

Tive que fazer essa pequena contextualização porque a casa da Sra. A. é peculiar. Quando vc entra, o que vê é um corredor, cujas paredes estão dispostas em forma de estante. E nessas estantes livros e mais livros. Em frente dos livros, como decoração, alguns objetos de culturas pré-hispânicas (originais, pois foram encontrados por seu marido e filhos durante a construção da casa!). Há uma única interrupção entre as instantes em que há uma janela. Desse corredor , a primeira abertura dá para sala. Uma sala que em vez de TV, há um quadro na parede. E abaixo, uma lareira. Ao redor da lareira, sofás, poltronas, tapetes aconchegantes. E da sala, se vai para um jardim... sendo que a única divisória são portas de vidro. Fora, há também sofás, cadeiras e poltronas, e uma pequena mesa –de-jantar de madeira.

 Tudo, muito, muito encantador. A Sra. A. deixa o ambiente ainda mais literário com sua aparência e jeito de americana descobridora do Novo Mundo. Isso porque fala com calma, apesar de um jeito ativo de ser, senta-se conforme uma educação inglesa, toma chá, e têm os olhos brilhantes ao falar da história do México ou de música. E apesar de tudo, não é daquelas senhoras snobs, ao contrário, parece considerar que todos ao seu redor são mais interessantes que ela mesma.

Naquela tarde, apesar do frio, comemos no jardim, pois assim estava mais agradável. No caminho entre a cozinha e o jardim, ela me encontrava admirando seus objetos pré-hispânicos e me contava de como foram encontrados e da grande preciosidade que tinham. Em sua maioria eram pequenos vasos, pratos, pontas de flecha, que ganhavam valor quando pensávamos em quantas pessoas tinham esses objetos como parte de sua casa, de seu cotidiano.

Ao final, nos sentamos todas na sala, para esquentar-nos com o fogo da lareira que a Sra. A. tinha acendido, e ficamos conversando sobre línguas, música, culturas diferentes, etc. Parte de mim queria estar para sempre naquela tarde, naquela casa, naquela companhia. Mas uma hora tínhamos que partir, e eu tinha receio de dizer ´adeus´. Uma hora A. disse que tínhamos que ir. Toda minha vontade se contorceu, e meu corpo certamente não queria levantar-se e fazia protestos à razão. Mas não modo. Uma hora dei um susto em mim mesma, levantei-me depressa e comecei a despedir-me todos... pensando que a vida consistia em boa companhia e uma lareira acesa.

Uma vez eu vi uma senhora limpar um oratório.

Ao ver o trabalho que tinha que fazer, e pelo Amor que estava ali a observando desde o Sacrário, fui perguntar-lhe se não podia ajudá-la.

Passava aquele paninho em cada banco, cada acento, cada genuflexório, ia até os pés de cada um deles. Depois tiramos o pó das janelas, e com um espanador especial, o pó do altar.

Por fim acabamos e ao ver-me tão feliz, a senhora me disse:

- Agora só falta tirar o pó do Sacrário. Você gostaria de fazê-lo ?

Ao ver meus olhos brilhando de alegria, tirou um espanador de uma caixinha toda especial, que não permitia que entrasse pó dentro dela. Explicou-me que era feito das mais finas e suaves penas do avestruz. E finalmente mo deu. Fui em direção ao Sacrário. Tirei o véu que o cobria e comecei a limpá-lo.

E então já não era uma ´caixinha de ouro´. Era um menino, com seus 7 anos de idade, sentado enquanto eu lhe penteava e acariciava os cabelos. Eu tomava seus cabelos e ia de um lado para o outro, brincava de colocar sua franja para frente, e de lado e Ele ria. Pensei então em quantas vezes teria feito o mesmo a Virgem Maria, e agradeci a ela esse pequeno mimo de poder pentear o Menino Jesus. Por fim, tomei o véu, e pedi ao pequeno que levantasse seus bracinhos para que eu colocasse sua roupa. Obediente e com um doce sorriso, os levantou. Ajeitei bem, para que ficasse bem ajustado. E, num piscar de olhos, o menino se fora e ali estava de novo a ´caixinha dourada´.

Voltei à salinha em que guardávamos o espanador, e o coloquei cuidadosamente em sua caixa.

 Sai, e me sentei em um dos bancos.

E pensei o quão amável era Deus... que deixava-se estar vulnerável como um menino... que se deixava como Pão, para O acolhermos, para O Amarmos.

E que ainda assim tão poucos O amavam.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

tempo para amar


O tempo no México é algo desconcertante.

Porque parece escorrer, parece ter pressa. Quer que eu viva dois dias de cada vez.

Eu tenho esse dom ou defeito de me acostumar muito facilmente às circunstâncias. Nesses dias me dei conta que tinha me acostumado a pegar o ônibus ao sair da faculdade, a conversar com as pessoas aí, a jantar tortillas com M., a preparar meu café-da-manhã na noite anterior, a ir pelo parque a pé fazendo a ação de graças, pela Comunhão recebida.

E então me dei conta... de que não é minha vida. De que é uma experiência, e que irá durar somente esses meses. E que apesar de ter deixado pessoas queridíssimas no Brasil, me dá um terrível aperto no coração pensar que muitas dessas pessoas com quem converso diariamente agora, nunca mais irei ver na minha vida.

Por isso meus últimos dias têm sido um constante não-me-acostumar. Não me deixar levar por essa rotina, que não é a minha, que é apenas desses meses.  E aproveitar a cada uma dessas pessoas o máximo que posso, porque o tempo urge, e não posso esperar, não posso desperdiçar um único minuto.

Essa semana, entre essas conversas diárias que temos na faculdade, vi L., uma amiga, de repente colocar uma cara triste quando ela mesma se deu conta disso tudo...´mas Esther... vc voltará, não é verdade... para visitar-nos...? ´ Não pude responder. Mudamos de assunto. Porque é muito doloroso. Quem sabe ? Quem sabe se vou voltar ? Talvez eu nunca mais volte a esse país – e não porque não tenha gostado, pois cada dia me cresce um amor por essa terra! – mas porque... quem sabe ...?

Que coisa é o amor. Nos deixa vulneráveis. Porque acabamos por nos importar de verdade. E às vezes isso gera essas dores. Mas isso não é motivo para decidir não amar. Porque... o que é a vida sem amor ? Vou dizer: é vazio. Quando amamos somente a nós mesmo, quando pensamos somente em nossos problemas, nos tornamos cada vez mais tristes. A verdadeira alegria é amar, amar a todos, ainda que nos façam mal. Ainda que não nos caiam bem. Amar a todos, porque isso nos torna livres, felizes, e ... vulneráveis. Mas quem se importa ?

Se Ele, por amor, quis se deixar ser vulnerável, e veio como um bebê indefeso...
Porque nos ama, se deixa ofender por nossas misérias, ao ver que fazemos mal a nós mesmos quando não O amamos. Se Ele, que é Deus, se permite vulnerável por amor... quem sou eu para não querer imitá-Lo ?

Porque por detrás de todo sofrimento que lhe causou amar-nos, nos deu a felicidade da vida eterna. Assim que confio que essa pequena dor de pensar que tudo aqui é temporário, também dará algum fruto, porque quem ama, já tem sua recompensa.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pronomes, diminutivos e S. Pedro


Às vezes, tenho uma vontade enorme de falar português. 

A verdade é que mais do que falar português, quero não ter que pensar,  nem medir, nem reparar se estou usando bem as palavras, conjugando certo os verbos, colocando os pronomes adequadamente.  Mas não adianta. A revolta interior de meu cérebro, que não quer ter de se esforçar, acaba sendo vencida, porque não há modo que me deixe entender quando falo português. É que quando somos obrigados a falar outra língua, percebemos o quão maravilhoso é a nossa própria, o quanto é incrível que não tenhamos que parar a cada sentença para verificar se os tempos verbais estão adequados.

A mim, sempre me impressionou o uso dos pronomes no espanhol.  Acho que porque os nossos pronomes são muito desvalorizados. Um dia falei isso com uma amiga aqui no México, que ficou desconcertada: ´ah, legal vc gostar dos pronomes...´ me disse com um sorriso um pouco sem graça. É, vendo dessa maneira, talvez pareça estranho.

Um dia, brincando de esconde-esconde com meus sobrinhos, ao ver que eu me demorava para ir atrás deles, A. começou a falar: ´ENCUENTRAME!´ Imagine o meu desconcerto ao ver um garoto de 5 anos usar dessa maneira os pronomes! Vc me dirá: ´bom esther, é assim que é o espanhol´, mas ainda assim não me convenço. Acho incrível.

Uma outra coisa comum aqui são os diminutivos. A variação ´ahorita´ - de ´ahora´ (agora)- é dos mais usados. E temos ahora (que se utiliza para designar uma grande referencia de tempo), ahorita (daqui a pouco), ahoritita (imediatamente).

Um diminutivo ao qual de alguma maneira me afeiçoei foi ´padrecito´.  Uma vez me disse isso Y. se referindo a um padre jovem que conhecíamos.  Me pareceu tão terno! É que apesar de jovem, tem uma visão de mundo incrível. Uma vez ao conversar com ele, deu-me umas boas ideias para colocar em prática.  

(vcs vão me desculpar por falar tanto de catolicismo, mas às vezes me parece inevitável...!)

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A cada dia, em cada missa, a cada oração, eu tenho pensado em toda essa loucura de deixar nossa casa, nossa família, e ir para um lugar desconhecido, com outras pessoas, outros lugares, outra vida. A resposta me veio no Evangelho do dia: aquele de quando Pedro se jogou no mar ao ver Jesus caminhando sobre as águas.

Porque olhando com olhos humanos, o que Pedro faz é absurdo. O que ele queria ao se jogar nas águas ? Estava deixando sua barca, aquela barca de toda a sua vida, e que provavelmente conhecia cada canto, cada lugar. Aquela barca segura, quentinha, muito boa, ao qual muitos queriam ter.  Deixava seus amigos,  sua roupa, tudo. Saía nu da barca, para pular no mar.

É que no mar estava Jesus.  Ele podia reconhece-Lo. E no final das contas, que importa se o mar estava gelado, se tinha piranhas, se estava escuro ?  O verdadeiro absurdo, a verdadeira loucura era ficar na barca quentinha, quando Jesus o tinha chamado: ´Vem!´ .

Deus, criador do Céu, da Terra, de tudo o que vemos, que desenhou cada uma das pétalas das flores, que estabeleceu as regras de toda a natureza, que fez cada planeta e cada estrela de todo universo,... estava ali, e o chamava.

Talvez, para os que estavam na barca isso fosse absurdo. Talvez não tivessem certeza de que fosse Jesus. Talvez pensassem que era demasiado exagero esse negócio de pular da barca. Mas para Pedro, era claro, muito claro, era Ele, era Ele e o chamava. Tinha que ir. Porque maior loucura do que ir, era ficar.

Tudo isso para dizer que... apesar do enorme desconhecido que me esperava em Toluca, aqui já me esperava Ele.  Apesar de não conhecer ninguém, eu já tinha aqui uma Mãe que me esperava.  E tudo tem saído muito bem. Incrivelmente bem. Realmente, já estava tudo um preparado para receber-me, eu só precisava dizer que sim. 

 É uma loucura sair de casa... mas, se os pássaros não saem do ninho, como podem voar ?
               

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fotos! (finalmente!)

 Catedral de Toluca, com amigos da faculdade

 Fiestas Patrias
Mole negro! Comida super típica : pedaços de frango com um molho que tem mais de 30 ingredientes entre nozes, pimenta, chocolate e não me lembro mais o que.... e o arroz, com uma pimentinha, claro!

Música


Aqui, nos dias 15 e 16 se comemora a Independência mexicana e são festejadas com muito patriostismo. Todos as prefeituras se enfeitam de vermelho e verde, todas as casas e carros na rua exibem bandeiras, todos os camelôs vendem todo o tipo de artigo para vestir nas comemorações: desde bigodes a sombreiros com o dizer ´iViva México!´, todas as lojas colocam piscass-piscas, e não é raro escutar quem grite ´Viva México´ pelas ruas, no rádio, na tv.

Na última sexta-feira fui ao Auditório Nacional para ouvir a Orquestra de Minería tocar músicas mexicanas em homenagem às Festas Pátrias. O auditório estava cheio de pessoas de todos os lugares e classes sociais, todos conversando, esperando nas filas, ansiosos.

A verdade é que, o concerto foi realmente muito bonito. E mais bonito ainda é ver o patriotismo dos mexicanos. Eu já ficara impressionada quando assiste ao jogo Brasil x México porque quando iniciaram o hino nacional todas as mexicanas na sala se levantaram em um salto. E o mesmo passou quando a orquestra iniciou com o hino - pois todos se colocaram de pé, inclusive os músicos que poderiam tocar seus instrumentos nessa posição.

Sei que muitos não se importam com a música clássica, e pensam que é uma chatice. Mas esse espetáculo não foi. O maestra era muito expressivo e podíamos ver como a música era o que fazia seu sangue correr pelo corpo. Penso que duas músicas me deixaram especialmente arrepiada. A primeria é uma valsa, que nem mesmo algumas das mexicanas que estavam comigo sabiam que era mexicana. Parece que seu compositor, Juventino Rosas, assim que a compôs, mal teve tempo de divigugá-la em seu país, pois Porfírio Diaz, o presidente da época, quis levá-la logo a Europa de tão bonita. E de tanto sucesso que fez no Velho Continente, quando seu compositor quis apresentá-la aos mexicanos, ninguém reconheceu sua verdadeira nacionalidade. Tenho certeza que muitos já ouvimos, pois é muito famosa:



Suite México 1910 foi outra que me encantou especialmente:



O mais incrível foi ver que embora somente se tocasse a melodia da música, não era difícil ouvir sua letra - pois bastava olhar ao redor que podíamos ver famílias, casais, crianças, senhoras e senhores cantando para acompanhar a orquestra.

E a participação do público era tão ativa que, na última canção, Huapango, o maestro, ao perceber que o público começou a bater palmas para acomanhá-lo, logo fez um sinal para que paréssemos... depois dirigiu uma de suas mãos ao público como se nos dissesse que logo entraríamos... e então fez o sinal para que começassemos a bater palmas. Éramos mais uma parte da orquestra que regia! E assim a música toda: nos pedia para parar algumas vezes e voltar em outras. Foi realmente muito emocionante, pois nos tornamos parte do espetáculo.

A música é algo incrível. Eu não sei como, nem porquê, mas é inegável que entra em nós muito mais do que através da vibração dos tímpanos. Entra por todos os poros do corpo. E não falo só da música clássica. Falo da música. Desde o rock até às valsas mais tradicionais, a música nos consome, e nos dá essa vontade de ser um com ela: o que só podemos expressar por meio da dança. Não podemos escutar algumas batucadas que já começamos a ter cócegas por todo corpo. A dança transmite a alegria do ser humano. Me lembro dessa passagem bíblica em que, em suprema felicidade, o rei Davi cantava e dançava os salmos de louvor a Deus. E é muito bonito pensar isso. Em um de seus sonhos proféticos, Dom Bosco esteve no que chamou uma ´ante-sala´ do Céu; e uma das coisas que descreve era a música:

Enquanto contemplava extasiado tão estupendas maravilhas que adornavam aqueles jardins, eis que chega a meus ouvidos uma música dulcíssima, de tão agradável e suave harmonia que nem posso dela dar-vos adequada idéia. As músicas do Padre Cagliero e de Dogliani nada têm de musical se comparadas àquela! Eram cem mil instrumentos, produzindo cada qual um som diverso do outro, enquanto todos os sons possíveis difundiam pelos ares suas ondas sonoras. A estes, somavam-se os coros de cantores.

Isso me fez pensar... que talvez Deus não seja somente a visão beatífica. Certamente é também a audição beatífica. Pois sendo tudo, certamente nos preencherá em todos os sentidos no Céu, incluindo na audição. Penso em Moisés, e na passagem que ouviu a Deus, na sarça ardente. Que melodiosa e doce deve ser a voz de Deus! Penso em S. Juan Diego, o índio que viu Nossa Senhora de Guadalupe, aqui no México, e que momentos antes de sua primeira visão escutou um pássaro que cantava tão bonito, que quis aproximar-se do som para ouvi-lo melhor... melodia que o levou a Nossa Senhora!

E pensar, que Deus, sendo menino, ouviu Nossa Senhora cantar para niná-Lo. Um Deus que se deixa ninar, que deixa que cantemos para lhe agradar aos ouvidos... A verdade é que às vezes eu mal posso me conter, e muitas vezes me pego cantando à Ele as músicas bonitas que temos. Mesmo que a minha voz seja terrível para cantar, canto baixinho, canto interiormente, pensando que o Amor converte tudo em beleza.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O céu...

´Jerusalém, Jerusalém (...) quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... ´ (Mt 23, 37)

Não há modo de estar aqui, sem pensar, sem sentir, sem amar.
A cada manhã, quando tenho que passar por uma ponte alta no caminho para faculdade, tenho uma vista belíssima da cidade. Mas não é isso que tira meu ar.
Mas o céu. Ah, que lindo é o céu de Toluca!
Porque é um céu intenso. Porque parece viver meu interior. Porque acorda dourando as nuvens.
E para mim, é a visão do Céu. Porque quando vejo, ao longe, aquele Sol, escondido atrás das nuvens que faz tudo ao redor parecer ouro, me pego novamente desejando o Céu. E não porque desejo morrer, senão porque desejo viver intensamente.
Porque o céu de Toluca fica cinza, quando me sinto longe dEle. Porque as nuvens decidem esconder o azul, como se envergonhassem de sua beleza.
Mas sobretudo, o céu de Toluca é sempre perto. Está a um toque, e parece que a qualquer momento pode nos submeter em sua imensidão.
Porque o Sol de Toluca é mais forte, e me queima, como se desejasse penetrar em meu sangue, e correr pelas minhas veias, e quem sabe assim, poderia me aquecer.
Porque quando bate no verde das folhas, reflete a vida.
E pensar... e pensar, que é sempre o mesmo céu, é sempre o mesmo Sol.
Porque é o mesmo Sol que ilumina a mim e aos que deixei.
E quando me sinto só, Ele vem e me consola, e me mostra sua grandiosidade, de ser como a ave que abre suas asas para proteger seus pintinhos. E a todos eles aquecer.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A família D.

Talvez a maior preocupação da família quando vamos para fora, é saber onde vamos dormir, com quem vamos ficar etc.
A verdade é que quando sai do Brasil, eu não tinha um lugar para dormir em Toluca, somente na Cidade do México, DF. Frequentava o Opus Dei no Brasil, e contatando a obra no México, fui acolhida maravilhosamente nessa cidade, a qual a primeira coisa que conheci foi o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe (sobre isso farei um post especial).
Em Toluca conheci essa família, que eram conhecidos das numerárias do DF e que amorosamente me receberam. São um casal: o senhor e a senhora D., mais sua filha, M. de 30 anos, a segunda dos dez filhos que tiveram (e que hoje estão todos casados, menos M.).
Nos primeiros dias, tínhamos uma relação um pouco distante, porque não sabíamos lidar tão bem com a situação. Com o passar dos dias, chegava em casa e falava um pouco da faculdade, das pessoas, etc e então o casal me comentava algo, ria de algumas coisas engraçadas, sorriam. Me perguntaram do Brasil, e eu falava tudo que podia, querendo sanar sua curiosidade. A Sra. D. parece ser uma senhora de sorriso difícil, e eu simplesmente me derretia quando a via sorrir por algo que eu falava ou fazia.
Ao final que a Sra. D., em duas semanas, me apresentava a família como sua filha número 11, adotada do Brasil (:
Se uma família com dez filhos pareceu grande a vocês, deixem-me falar dos 24 netos.
Fui apresentada a cada um dos filhos e cunhados, e por consequência, aos netos. Dois de seus filhos vivem em outro estado, e então, até agora não pude conhecê-los - o que faz com que eu tenha conhecido apenas os outros 18 os netos.
Toda quinta-feira é dia de deles: Chegam por volta das 16h, e ficam até umas 20h, brincando de todas as coisas mais imagináveis possíveis, porque afinal, têm entre 1 e 18 anos.
Eu separo em três turmas: os maiorzinhos de 7 à 14, os meninos pequenos de 5, e as meninas de 3 à 5. Na primeira quinta que vieram brinquei de esconde-esconde com os de 5. Na segunda quinta, com as meninas de ´mamãe e filhinha´ e depois com elas mais os meninos de esconde-esconde. Hoje, a terceira quinta, brinquei com todos: pega-pega, esconde-esconde, vivo-morto, estátua, pula-pula... e ainda deu tempo para conversar um pouco com os maiores sobre o Brasil, falar português e etc, em quanto uma das meninas de 5, R., vendo o meu cansaço me disse: ´Fique aí, que vou te pegar um copo da água.´ A mesma que na volta, ao me ver falando do Brasil me perguntou: ´E que língua falam em seu planeta?´ - ao que claro todos riram, e que carinhosamente P., de 10, lhe disse: ´não é planeta, é país´.
Com a outra menina de 5, S., foi ainda mais bonito: ao elogiar sua medalhinha de Nossa Senhora ela me disse: ´É para eu falar com a minha vózinha´ e com isso beijou a medalha e jogou outro beijo para o Céu. E eu falei:
- Ahh, vc fala com sua vózinha ?! E com Nossa Senhora você fala?
- Não dá para falar com Nossa Senhora, ela está no Céu!
- Ué, mas como não se eu falo ?!
S. abre espantosamente seu grandes olhos e me fala com um sorriso:
- Você fala com Nossa Senhora ? Mas como ?
- Ora, assim como eu falo com vc! Converso com ela durante o dia, falando dos meus amigos, do que tenho que fazer etc... Você devia tentar!
E então, chegou R. e nos disse:
- Meninas, meninas, vamos brincar de mamãe e filhinha ?

E há claro, A., que têm 3 anos,e um gênio forte - mas que é incrivelmente amável. Na primeira vez que a vi, não quis vir falar comigo. Hoje, quando me convidaram para ir ao enorme pula-pula que há no jardim,  ao expressar o meu medo, A. me disse:
- No te preocupes, yo te cuido.
Depois de uma promessa dessa, quem poderia resitir ?

O fato é que acabei ganhando 15 sobrinhos (os outros três não vem muito aqui), que às quintas me puxam de um lado a outro para brincar. E outro dia lembrei de como não gostava de brincar com minha irmã, quando ela era pequena, porque eu estava naquela fase ´quero-ser-adulta´. Que pena! Quando vejo essas meninas, penso nela, e no quanto eu queria voltar no tempo para brincar com minha irmã do jeito que faço hoje com S., A. e R. ...
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Anedota do dia:

Tentar explicar aos adultos o que são coxinhas, esfihas, pães-de-queijo e todos esses salgados do Brasil, para demonstrar porque não sentimos falta de tortillas.
Tente você explicar - em espanhol - o que é uma esfiha para um adulto que nunca viu isso nada vida!

domingo, 2 de setembro de 2012

Sobre as aulas, Chaves e Cri Cri

Bom, as aulas na faculdade são um pouco como na Letras.
Estou fazendo 4 matérias, duas são com os bixos (Español escrito e Literatura Prehispánica) e duas com o pessoal do 5o semestre (Analise del texto narrativo e Literatura Latinoamericana 1940-1970).
Como na Letras, as matérias com os bixos são sempre muito lotadas (isso em comparação com as outras matérias aqui na faculdade porque, vejam só, são 240 alunos em TODA a gradução de Letras, o que nem se compara com os 800 bixos que entram por ano na Letras da usp). Então somos como 50 alunos nas matérias do primeiro ano e cerca de 20 nas matérias do terceiro ano.
Quanto a participação, é o de sempre: têm aqueles 3 ou 4 alunos que sempre perguntam, comentam, respondem, e há outros casos em que, por exemplo, nas aulas dos mais velhos acontecem em que os alunos são convidados a falar D:
A verdade é que como estrangeira, os professores SEMPRE me convidam a comentar algo em sala de aula. E isso passa tb com outras duas brasileiras que fazem Prehispánica comigo (bom, pelo menos nessa aula específica). Isso significa que eu sempre tenho que estar muito a par dos textos, da aula e tudo isso.
Uma vez, estava o professor de prehispánica comentando sobre os objetos utilizados pelos antigos povos americanos. E enquanto ele falava isso, eu comecei a pensar que não sabia de nenhum objeto específicos que os indígenas do br usavam, e que portanto se o professor me perguntasse sobre isso, certamente eu não saberia responder... até que vejo o professor olhando para mim e me perguntando:
- E como é o nome disso em português ?
Bom, eu não tinha a mínima ideia do que ele se referia com ´disso´. Estava muito ocupada aqueles três minutos tentanto lembrar de objetos indígenas brasileiros... então garguejei:
- ahhhhhnnnnn.. não me lembro...
Então o professor fez uma cara de quem se deu conta de que eu não estava prestanto atenção...e continuou a aula...
Depois disso, a verdade é que o professor perguntou menos para mim (o que não significa que não tenha mais perguntado...)
...

Além disso tem o Chaves. Sabe que aqui no México também passa ainda Chaves na televisão. Mas, pelo que eu andei conversando com os mexicanos, o seriado é considerado como uma ´cultura muito baixa´, isso é, se vc gosta de Chaves isso significa que tem uma cultura muito pobre e essas coisas. Mas apesar disso é muito fácil encontrar doces com a marca do seriado, ou então bonecos, adesivos etc.  Inclusive uma vez ganhei de uma amiga um pirulito do Chaves que vinha com um barril que tinha dentro... PIMENTA! Sim, pimenta em pó para mergulhar o pirulito dentro :OOO
Ainda não abri o pirulito, mas quando o fizer faço um post sobre a experiência.
....

Estou estudando (ou tentanto) um pouco sobre música e história mexicana, principalmente por meio de perguntas a respeito de quem são as pessoas nas notas do dinheiro, dos nomes das principais avenidas e ruas etc. Um dia fiquei conversando com pessoas da faculdade sobre música. E me passaram um video do YouTube de um cantor antigo-clássico das crianças, que é conhecido como CriCri. O video, curiosamente, conta a história de uma niña chamada Esther (que eu descobri ser um nome considerado muito antigo, de senhoras sabe...):
Para quem não entender a letra: ´Tete´ é o apelido carinho de Esther. Conta a história de uma menina que queria se casar e por isso ficava na janela esperando seu ´príncipe azul´. Acontece que obviamente na janela só passavam muchachos que não valiam a pena; então sua mãe dizia a ela para que entrasse em casa (´metete tete´).

hahaha, bom é isso por hoje (:
Beijinhos!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Anedota

Para fazer rir (:

Para entender a história, duas informações importantes:

1. Em Toluca há em alguns postes de luz uns cabos que descem diagonalmente, formando uma hipotenusa entre o poste e o solo. Eu ainda não entendi porque desses cabos, mas o importante foi descobrir que não davam choque.
2. Em Toluca e na Cidade no México não se respeita nenhum ponto de ônibus: quando vc dá sinal o ônibus para, seja no ponto, seja no meio da avenida central; quando vc aperta o botão para parar, ele para, seguindo as mesmas regras

Enfim, vamos a história:

Um dia levantei com muito frio e com muito sono.
A verdade é que as minhas lembranças dessa manhã estão bem dispersas, porque não sei bem se já tinha acordado, ou não (nunca tiveram essa sensação ?!)

Nesse dia, estava no ônibus indo para faculdade. Eram quase 8h.
Um muchacho apertou o botão para descer e como não era um ponto muito distante da minha faculdade, fiquei com dó de fazer o motorista parar de novo cinco metros a frente e decidi descer aí também. Eu não demorei muito, estava no pé do muchacho. Esperei ele descer, e quando comecei a descer, o ônibus começou a andar.
Foram três segundos:
1. bom, tenho que descer
2. vou descer, porque está devagarzinho
3. desci.

O que eu não esperava: quando desci, o ônibus tinha andado o suficiente para que eu desse de frente com um desses cabos-hipotesas, que acertou em cheio meu nariz e minha testa!!

Mais três segundos:
1. Aehh, bom dia Esther! que aconteceu ?
2. Dói, dói, dói
3. SERÁ QUE ALGUÉM VIU ?!!!
4. Será que esses cabos estão sujos ? OH meu Deus, será que tenho gracha na cara ???????????
5. Para que direção tenho que ir ??

E então comecei a andar na direção certa, rindo, rindo, do meu momento Indiana-ops-Mr. Bean, limpando a cara que eu pensava estar com um risco diagonal de testa a queixo... mas não, não estavam sujos os cabos... eu estava com uma marca avermelhada da testa, uma evidência de que algo tinha acontecido :P

Resultado: dores na testa o resto da semana, sem mais efeitos colaterais.
No final das contas, deve ter sido uma maneira graciosa de ser evidentemente acordada por meu anjo da guarda, hahahaaha!
Beijinhos!




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cotidiano

6h (aquele período em que resistimos mais um pouco na cama, até nos darmos conta de que há vida fora dos cobertores - ainda mais aqui em Toluca que amanhece, em pleno verão, com 10oC!!)
7h Missa (Amor)
7h45 Desayuno andante: passar pelo parque da cidade, ver as pessoas indo ao trabalho, ver os primeiros estudantes ir para escola etc enquanto vou para a faculdade
8h Español Escrito: Normas Gramáticais
10h tempo livre. Estudo, rosário, estudo.
12h Literatura Prehispánica
14h Comida (enchilladas com coca ou liquado):D
15h Estudo (oh meu Deus, como Prehispánica é maravilhosamente difícil!)
17h30 Ida a uma igreja antiga: leitura, oração etc.
18h30 Estudo (sim, tenho que ler esse texto para a aula de Analise del texto narrativo amanhã)
20h Cena (tacos ou tamales ou fruta ):D
21h Estudo ou cama :P

Bem esse é mais ou menos o meu cotidiano. Não muda muito com relação ao do Brasil, a diferença é que às vezes tenho muitas desculpas para ir visitar pontos turísticos e coisas assim (:
Estou sendo agregado no face por alguns mexicanos porque é incrível a repercussão que teve o crescimento do Br por aqui. Encontrei com muitos que querem vir ao Br pelo menos uma vez na vida, ou outros que já estão decididos a ir morar por lá. Há na faculdade o curso de Português, e o professor já veio conversar comigo e outras brasileiras para que fóssemos ajudá-lo com conversação um dia desses...
Além do mais, não poderia faltar numa faculdade de humanidades a turminha da esquerda. Há alguns cartazes (poucos, comparado a Letras...) e pequenas manifestações do opinião a respeito de uma suposta fraude nas eleções: ganhou Peña Neto, do PRI, partido que esteve no poder por 70 anos no México, e conhecido pela corrupção. Não estamos tão diferentes, afinal.
Entretanto essa esquerda parece atrapalhar mais: o candidato de extrema-esquerda é conhecido por fechar avenidas ou lugares importantes e causar um transtorno enorme aos cidadãos que quer defender (!!!!). Em eleções passadas, com a mesma desculpa de fraude, fechou o que seria a Av. Paulista com manifestantes, do tipo sem-terra, por quase 4 meses!
Enfim, não falemos de política, falemos de...comida!
Não é tão picante como é famosa - a verdade é que na maioria das vezes a pimenta é opicinal. Tipo mostarda no Br. Uma única vez peguei um delicioso hambúguer que, no meio, vinha com uma pimenta terrível e desatei a beber coca-cola :P
As tortillas não são tããão gostosas, mas se pode comer. Os tamales, tacos, etc são ótimos e muito mexicanas. As enchilladas têm um pouco de pimenta, mas a verdade é que aos poucos, vc até acaba gostando. O que também é opcinal no hamburguer é abacaxi e abacate (sim, muito estranho!)
Bebe-se muita coca-cola. Há também águas de jamaica, tamarindo etc, que não são sucos, porque sucos são da polpa da fruta e essas águas são como, não sei, a essência líquida da planta, ou qualquer coisa assim...
Que querem mais ?! Há algo que gostariam que eu contasse ? (:

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Los chofers


Bem, acontece que assim são chamados os motoristas de ônibus no México. E eu tinha certa obrigação de escrever sobre essas pessoas raras.
Vamos ao primeiro ponto. Aqui no México o transporte público me pareceu bem eficiente. Isso não significa que esteja tudo tinindo de novo... mas bem ao contrário...

Os ônibus são propriedade da empresa que controla o transporte público. Mas os ônibus ficam em posse dos chofers - e isso significa que eles tem que ter os cuidados para concertá-los, mantê-los em ordem... e que podem customizá-los.

A verdade é que nada foge muito do que já tomaríamos por ´mexicanidades´... Temos por exemplo os motoristas que colocam adesvisos de caveiras - no maior estilo ´Fiesta de los muertos´. Outros colocam adesivos do tipo ´Esse motorista pode desaparecer a qualquer instante´ - em alusão à crença protestante do arrebatamento. Ou então podem colocar um monte de santinhos em imagens, estampas etc. Ou então podem fazer as três coisas juntas e ao mesmo tempo. Por que não né?

O que não escapa, e que há em comum nos três tipos é um crucifixo. Pode ser simples e fino, pode ser grande e de madeira, às vezes é daqueles piedosos que nos faz ter uma crise existencial e a pensar no sentido da nossa vida.

Além das customizações, tem a música. Sim, a música. Porque o transporte público em São Paulo é (para bem, para mal) silencioso. Aqui, os motoristas podem escutar o que bem querem. Mônica, minha ´irmã mais velha´, disse-me uma vez que o gosto dos chofers era ´raro´. hahaha, muito bem. Até hoje não escutei baixarias - a não ser se contar aquela vez em que ao mudar de música o motorista se deteve um breve momento no `ai ai ai´ inicial de Michel Teló... sim, senhoras e senhores! - mas ouvi desde rap em espanhol, até o mais comum, que interiormente chamo de Jovem Guarda mexicana. Porque afinal os ritmos lembram-me a Roberto Carlos, assim como as letras das músicas.
E , por enquanto, não tenho me incomodado tanto...

Bom, e deixando as customizações e músicas de lado, falemos das pessoas. É interessante: há alguns que aparecem com o básico: camisa, jeans, tênis. Outros, aparecem com um quê professional: camiseta, calça reta, sapato. Alguns são gentis, outros indiferentes, outros mais rudes. Há alguns que só dirigem. Outros que dirigem e mudam de música. Talvez alguns que cantem. Outros que dirigem com o jornal aberto em cima do volante, quem sabe o porquê...

E ao me sentar, não posso me conter em observá-los.
Pensar em como é sua vida. E o que os deixa preocupados.
E o que faz com que queiram chegar logo em casa, ou demorar-se no caminho.
Pensar no que querem dizer com aqueles adesivos, imagens, frases. Obviamente, acabo por deter-me no crucifixo, e em uma oração. Que cheguem logo em casa, que tenham a comida quentinha, que ajudem seus filhos na escola, que estejam felizes, que descubram que o doce sentido da vida está além do ter ou não um crucifixo, mas que está no amor que tenham ao olhá-lo e ver até onde foi o Amor.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Toluca

A cidade é pequena. Quer dizer, é bem menor que São Paulo.

No primeiro dia que cheguei, quis logo saber das igrejas. Onde estavam, quão distantes ficavam do lugar da minha possível hospedagem, que horas abriam, que horas fechavam. Que horas eram as missas, que santos haviam dentro delas. Há quem chame de fanatismo, eu chamo de amor.

Logo conheci uma, de Los Desamparados tinha adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, Porque era uma capela reparadora. E me tranquilizei. Descobriria mais tarde que ficava a um terço da faculdade. Pouco a pouco, conheci as outras. Maiores, menores. Antigas ou com aparência antiga. Encontrei aquela ao qual me afeiçoei . San José del ranchito se chama. Ademais de ser de S. José, tem uma bonita imagem de Sta. Gemma Galgani, porque é dos passionistas. E também relíquias de dois jovens mártires romanos, Felipe e Gaudêncio, que foram trazidas para cá .

Afeiçoei-me também às imagens de Jesus crucificado. Tão reais, e tão próximas. Um dia, ao sair da capela, em silêncio, vi um senhor, velhinho já, beijando os joelhos machucados de Jesus. Comoveu-me tanto! Quis imitá-lo.

Por ser a cidade pequena, costumei ir andando de um lado ao outro. E a calcular a distância por terços: de casa até a faculdade, um terço e meio; de Los Desamparados até em casa um terço. De San Bernadino até a faculdade um terço.

O frio é agradável. E as chuvas também. Chove todos os dias em Toluca, com trovões e raios. A chuva vem e vai, e normamente dorme com a gente.

Em meu quarto tenho a cama e uma gigante mesa para estudar. E um calentador para esquentar a noite. Uma cruz de madeira, sem crucificado, e uma pequena imagem de Maria e de um anjo. Agora tenho alguns livros e papéis na mesa, que já está um pouco bagunçada...

Disseram-me que em Toluca as pessoas são frias. Não é verdade. Ninguém foi frio comigo, ao contrário, sempre foram muito gentis e amáveis. Tenho aulas com os bixos da faculdade. É interessante ver aqueles olhos brilhantes diante da perspectiva da faculdade. Como se agora fossem gente grande. E no entanto, são tão pequenos!

Às vezes, ao sair, dá uma vontade louca de conversar com as pessoas. De pará-las na rua e pedir que me contem sua história. Como chegaram até aqui. Que pensam, que querem, que amam, quem amam. Às vezes dá uma vontade de gritar para elas que Deus existe. Que se preocupa com elas. Que as ama, mais do que poderiam imaginar. Dá uma vontade de dizer que Ele está ali, naquela igreja, guardado no sacrário. Que está ali, esperando por elas há vinte e um séculos. Que Ele também quer ouvi-las, quer também falar com elas.

Em Toluca batem muitos sinos. Tocam, a cada 15 minutos. Às vezes, tocam um seguido do outro. De meu quarto posso escutá-los. Às vezes parecem chamar-me. E que vontade tenho de ir!

Em todo lugar, há a Virgem de Guadalupe. Que alegria é encontrar minha mãe no caminho! Olho para ela, e me lembro dos amigos que deixei no Brasil. Ela sabe.
E então digo que estou muito feliz de estar tão perto dela! E ela sorri.
E continuo: ´ruega por nosotros, ahora y en la hora de nuestra muerte...´
´Amém´.