quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Aquela doce tarde


Depois de uma agradável tarde caminhando pelo centro de Coyoacan com M. e L., fomos  à casa da mãe de A.

Sempre me deixou encantada essa casa, desde a primeira vez que a vi. É como entrar em uma dessas casas aconchegantes, antigas e rústicas. Para falar da casa tenho que contar a peculiar historia da mãe de A. (que a partir de agora chamo de Sra. A.). Filha de americanos, cujo pai por conta do trabalho estava sempre indo viver temporadas em outros países, tem irmãs que nasceram no Equador, Colômbia,  e ela, nos Estados Unidos. Quando chegaram a México, seu pai ficou encantado e decidiu por viver aqui.
Uma família com uma cultura imensa certamente, pois a Sra. A. vez ou outra fala que lembra de algumas canções de Mozart, Bach, Carlos Chávez, etc  por sua infância.  A única coisa que soube é que a mãe da Sra. A. era uma pianista muito boa, que tinha um especial aprecio por Bach.  

Tive que fazer essa pequena contextualização porque a casa da Sra. A. é peculiar. Quando vc entra, o que vê é um corredor, cujas paredes estão dispostas em forma de estante. E nessas estantes livros e mais livros. Em frente dos livros, como decoração, alguns objetos de culturas pré-hispânicas (originais, pois foram encontrados por seu marido e filhos durante a construção da casa!). Há uma única interrupção entre as instantes em que há uma janela. Desse corredor , a primeira abertura dá para sala. Uma sala que em vez de TV, há um quadro na parede. E abaixo, uma lareira. Ao redor da lareira, sofás, poltronas, tapetes aconchegantes. E da sala, se vai para um jardim... sendo que a única divisória são portas de vidro. Fora, há também sofás, cadeiras e poltronas, e uma pequena mesa –de-jantar de madeira.

 Tudo, muito, muito encantador. A Sra. A. deixa o ambiente ainda mais literário com sua aparência e jeito de americana descobridora do Novo Mundo. Isso porque fala com calma, apesar de um jeito ativo de ser, senta-se conforme uma educação inglesa, toma chá, e têm os olhos brilhantes ao falar da história do México ou de música. E apesar de tudo, não é daquelas senhoras snobs, ao contrário, parece considerar que todos ao seu redor são mais interessantes que ela mesma.

Naquela tarde, apesar do frio, comemos no jardim, pois assim estava mais agradável. No caminho entre a cozinha e o jardim, ela me encontrava admirando seus objetos pré-hispânicos e me contava de como foram encontrados e da grande preciosidade que tinham. Em sua maioria eram pequenos vasos, pratos, pontas de flecha, que ganhavam valor quando pensávamos em quantas pessoas tinham esses objetos como parte de sua casa, de seu cotidiano.

Ao final, nos sentamos todas na sala, para esquentar-nos com o fogo da lareira que a Sra. A. tinha acendido, e ficamos conversando sobre línguas, música, culturas diferentes, etc. Parte de mim queria estar para sempre naquela tarde, naquela casa, naquela companhia. Mas uma hora tínhamos que partir, e eu tinha receio de dizer ´adeus´. Uma hora A. disse que tínhamos que ir. Toda minha vontade se contorceu, e meu corpo certamente não queria levantar-se e fazia protestos à razão. Mas não modo. Uma hora dei um susto em mim mesma, levantei-me depressa e comecei a despedir-me todos... pensando que a vida consistia em boa companhia e uma lareira acesa.

Um comentário:

  1. Hahahah a mulher teve que expulsar vocês! Mas deve ser gostoso, nunca fiquei ao redor de uma lareira (x

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