quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pronomes, diminutivos e S. Pedro


Às vezes, tenho uma vontade enorme de falar português. 

A verdade é que mais do que falar português, quero não ter que pensar,  nem medir, nem reparar se estou usando bem as palavras, conjugando certo os verbos, colocando os pronomes adequadamente.  Mas não adianta. A revolta interior de meu cérebro, que não quer ter de se esforçar, acaba sendo vencida, porque não há modo que me deixe entender quando falo português. É que quando somos obrigados a falar outra língua, percebemos o quão maravilhoso é a nossa própria, o quanto é incrível que não tenhamos que parar a cada sentença para verificar se os tempos verbais estão adequados.

A mim, sempre me impressionou o uso dos pronomes no espanhol.  Acho que porque os nossos pronomes são muito desvalorizados. Um dia falei isso com uma amiga aqui no México, que ficou desconcertada: ´ah, legal vc gostar dos pronomes...´ me disse com um sorriso um pouco sem graça. É, vendo dessa maneira, talvez pareça estranho.

Um dia, brincando de esconde-esconde com meus sobrinhos, ao ver que eu me demorava para ir atrás deles, A. começou a falar: ´ENCUENTRAME!´ Imagine o meu desconcerto ao ver um garoto de 5 anos usar dessa maneira os pronomes! Vc me dirá: ´bom esther, é assim que é o espanhol´, mas ainda assim não me convenço. Acho incrível.

Uma outra coisa comum aqui são os diminutivos. A variação ´ahorita´ - de ´ahora´ (agora)- é dos mais usados. E temos ahora (que se utiliza para designar uma grande referencia de tempo), ahorita (daqui a pouco), ahoritita (imediatamente).

Um diminutivo ao qual de alguma maneira me afeiçoei foi ´padrecito´.  Uma vez me disse isso Y. se referindo a um padre jovem que conhecíamos.  Me pareceu tão terno! É que apesar de jovem, tem uma visão de mundo incrível. Uma vez ao conversar com ele, deu-me umas boas ideias para colocar em prática.  

(vcs vão me desculpar por falar tanto de catolicismo, mas às vezes me parece inevitável...!)

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A cada dia, em cada missa, a cada oração, eu tenho pensado em toda essa loucura de deixar nossa casa, nossa família, e ir para um lugar desconhecido, com outras pessoas, outros lugares, outra vida. A resposta me veio no Evangelho do dia: aquele de quando Pedro se jogou no mar ao ver Jesus caminhando sobre as águas.

Porque olhando com olhos humanos, o que Pedro faz é absurdo. O que ele queria ao se jogar nas águas ? Estava deixando sua barca, aquela barca de toda a sua vida, e que provavelmente conhecia cada canto, cada lugar. Aquela barca segura, quentinha, muito boa, ao qual muitos queriam ter.  Deixava seus amigos,  sua roupa, tudo. Saía nu da barca, para pular no mar.

É que no mar estava Jesus.  Ele podia reconhece-Lo. E no final das contas, que importa se o mar estava gelado, se tinha piranhas, se estava escuro ?  O verdadeiro absurdo, a verdadeira loucura era ficar na barca quentinha, quando Jesus o tinha chamado: ´Vem!´ .

Deus, criador do Céu, da Terra, de tudo o que vemos, que desenhou cada uma das pétalas das flores, que estabeleceu as regras de toda a natureza, que fez cada planeta e cada estrela de todo universo,... estava ali, e o chamava.

Talvez, para os que estavam na barca isso fosse absurdo. Talvez não tivessem certeza de que fosse Jesus. Talvez pensassem que era demasiado exagero esse negócio de pular da barca. Mas para Pedro, era claro, muito claro, era Ele, era Ele e o chamava. Tinha que ir. Porque maior loucura do que ir, era ficar.

Tudo isso para dizer que... apesar do enorme desconhecido que me esperava em Toluca, aqui já me esperava Ele.  Apesar de não conhecer ninguém, eu já tinha aqui uma Mãe que me esperava.  E tudo tem saído muito bem. Incrivelmente bem. Realmente, já estava tudo um preparado para receber-me, eu só precisava dizer que sim. 

 É uma loucura sair de casa... mas, se os pássaros não saem do ninho, como podem voar ?
               

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